Uberaba Sport Club, 98 anos de glória

Fundado em 15/07/1917, o Uberaba Sport sempre teve uma torcida apaixonada. Esse espaço pretende resgatar a bela história de nosso querido clube. É muito bom reviver esses grandes momentos, que explicam a paixão de nossa torcida, cada dia mais orgulhosa dos grandes jogos que voltaram a colorir o Uberabão. Nossa história é recheada de conquistas. Por várias vezes fomos os melhores do interior mineiro e, nos anos de 1981 e 1983, subimos direto para a Taça de Ouro, a partir da Taça de Prata. A Taça Minas Gerais, conquistada em 1980, não consta dos arquivos da Federação Mineira e é creditada ao América em algumas publicações. Mas eu estava lá... e vi o Uberaba levantar a Taça, já em 81, com uma vitória por 2x1, aos 50 minutos do segundo tempo, gol do lateral esquerdo Aldeir, após uma longa batalha jurídica contra a Federação Mineira. Nos posts a seguir, tento colocar os pingos nos is, e tenho certeza de que os mais jovens sentirão mais forte o orgulho de ser Colorado. Abaixo, assista aos dois gols do USC marcados contra o Flamengo, em 1981. Aquele primeiro tempo foi simplesmente fantástico. Foi uma derrota, mas a forma como o Colorado jogou foi incrível. Afinal, enfrentar o campeão brasileiro, o time do Zico, no Maracanã, e abrir 2x0... Até hoje escuto o barulho dos fogos.












quarta-feira, 23 de abril de 2008

Uai, a trave encolheu???? Boa campanha em 58 esbarra em juiz.

Algo de muito inusitado ocorreu no Campeonato Mineiro de 1958. O primeiro turno, concluído ainda em 1958, foi ganho pelo Atlético. O segundo turno foi disputado no ano de 59 e houve um grande equilíbrio entre os participantes. Cruzeiro, América e Uberaba, caçula da divisão extra, chegaram à rodada final empatados na liderança, com chances de conquistar o returno e o direito de disputar o título máximo contra o Atlético.


01/03/1959
Na última rodada, em Belo Horizonte, o Cruzeiro fez sua parte e venceu o Atlético por 1x0. Em Uberaba, o time da casa e o América disputaram um jogo interessantíssimo. O Uberaba saiu na frente com gols de Paulinho e Reinaldo, abrindo 2x0. O América diminuiu em um penalti contestadíssimo pelos uberabenses, anotado por Miguel. O Uberaba seguiu dominando e teve dois gols anulados pelo juiz. O primeiro com a alegação de impedimento e o segundo com a justificativa de que o jogador Paulo Gonçalves, do Uberaba, havia tocado com a mão, e não com a cabeça, a bola que entrara no gol americano. No segundo tempo, o América empatou com um gol, mais uma vez, contestado pela torcida e dirigentes do Uberaba, que alegaram que Gunga se encontrava impedido.
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Gol de cabeça feito por Paulo Gonçalves, anulado pelo juiz.



O juiz foi Luiz Pereira Filho, o popular Luiz Guarda, membro da Polícia Militar, que antes da partida foi muito elogiado pela crônica esportiva uberabense. No final 2x2 e o título do segundo turno seria do Cruzeiro. A torcida do Uberaba, incrédula e decepcionada, não conseguia deixar o estádio. Depois os torcedores fizeram o enterro simbólico do juiz.


As manchetes do tradicional jornal “Lavoura e Comércio”, de Uberaba, de 02/03/59, são o retrato da revolta de toda uma cidade:

“Esbulho Calamitoso”
“Um homem destruiu tudo: Sacrifícios sem conta e gols
legítimos. Uberaba Sport foi roubado em sua casa.”
“Ninguém pode contestar: O
juiz foi o n.° 1 em campo!”
Inconformados, os dirigentes do Uberaba fizeram de tudo para anular a partida. Tal situação também agradava ao América, que desta forma teria uma nova chance de vencer o Uberaba e fazer um jogo extra contra o Cruzeiro, que já havia comemorado o título do returno. Inicialmente, a defesa do Uberaba se baseava nos erros do juiz, mas surpreendentemente o relatório do árbitro trouxe uma nova opção para uberabenses e americanos. Nele, Luiz Guarda afirmava que uma das traves do Estádio Boulanger Pucci não estava dentro das medidas padrão, cerca de doze centímetros menor . Esqueceram-se então os erros do árbitro, os gols anulados e toda a revolta da cidade do Triângulo. Havia uma luz no final do túnel. Depois de muito bate-boca o jogo foi cancelado pela Justiça Desportiva Mineira, e desta vez a bronca foi dos dirigentes cruzeirenses, que não admitiam a hipótese de colocar em risco o título que já tinham comemorado.

O Cruzeiro entrou com recurso que paralisou o campeonato por algum tempo. A pendenga só seria resolvida após um acordo que envolveu todos os clubes interessados, em reunião, realizada em Belo Horizonte, que durou mais de cinco horas. Participaram representantes de Atlético, Cruzeiro, América, Siderúrgica e Uberaba. Os termos desse acordo foram:

1) América e Cruzeiro abririam mão do Super Campeonato de Aspirantes, dando o título ao Atlético.
2) Definida a realização da 4a. partida entre Cruzeiro e Atlético pelo título de 1956.
3) O Cruzeiro retiraria o recurso contra a realização da partida entre Uberaba e América.
Foi então marcada uma nova partida, também para Boulanger Pucci, com as traves corretamente instaladas. Desta feita, com toda a imprensa esportiva de Minas Gerais interessada na partida, foi escolhido, com aprovação de ambas as partes, o juiz carioca Amílcar Ferreira.
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29/03/59
Finalmente o novo jogo. O América vinha embalado após vencer Cruzeiro e Atlético em jogos amistosos mas o Uberaba confiava na repetição da boa atuação da última partida. O jogo começou e o Uberaba logo marcou, em penalti convertido pelo artilheiro Paulinho, logo aso 5 minutos de partida, dando a falsa impressão de que poderia vencer com facilidade. O América se ajustou em campo e empatou ainda no primeiro tempo, com gol de Ernani. O América já merecia o gol da virada quando, aos 17 minutos do segundo tempo, o juiz suspendeu a partida devido à forte chuva que caía sobre o estádio.

As equipes voltaram a campo no dia seguinte, 30/03/59, para a disputa do tempo restante. E o América conseguiu a vitória, com um gol de Gunga em falha clamorosa do goleiro Waldo, o que gerou suspeitas sobre o arqueiro colorado. Decepção total em Uberaba, que sonhava em disputar o título mineiro logo em sua primeira participação. Desta vez o juiz foi elogiado por todos. Não havia espaço para contestação.

Pelos lados do América, tanto esforço foi recompensado, pois o time conseguiu vencer o Cruzeiro na série decisiva do returno e enfrentou o Atlético Mineiro na grande decisão, essa vencida pelo Galo. A vitória do América no segundo jogo foi incontestável, mas nada tira da memória dos antigos torcedores colorados que o time esteve perto, muito perto de decidir o título mineiro de 58 e não conseguiu por culpa única e exclusiva do juiz.

Fonte: Jornal Lavoura e Comércio, de Uberaba, diversas edições de Fevereiro a Abril de 1959, com a colaboração do Arquivo Público de Uberaba.

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