Em 1928, esteve no Brasil um grupo de jogadores uruguaios que por vários meses desafiou a Federação de seu país, as longas distâncias e, com o passar do tempo, a falta de dinheiro, realizando cerca de quarenta jogos em quase cinco meses cruzando nosso país. Utilizando uma variação do nome do lendário time uruguaio, o Peñarol, o "Peñarol Universitário" arrastava multidões por todos os lugares em que se apresentava. A excursão foi envolvida por grande polêmica, uma vez que os uruguaios eram acusados de cobrar vultuosas quantias dos clubes que o desafiavam.
Assim, em junho de 1928, depois de empatarem com o Palestra e derrotarem Corinthians e Portuguesa de Desportos e se aventurarem pelo interior de São Paulo, os uruguaios chegaram a Uberaba e despertaram enorme interesse na cidade. Foram disputadas duas partidas contra o então chamado "Campeão Absoluto do Brasil Central" e, apesar da importância com que o Uberaba tratou as partidas, não foi capaz de dobrar os "universitários" uruguaios.
Assim, as primeiras partidas internacionais disputadas pelo Uberaba Sport terminaram em derrota dos nossos heróis.
07/06/1928
Uberaba 0x1 Peñarol Universitário
Local: Estádio das Mercês
Público: Aprox. 6.000
Árbitro: Benedicto dos Santos
Uberaba: Bio, Jefferson e Badú; Machadinho, Odilon e Parra; Faria,
Tintas, Walfredo, Affonso e Gradim.
Peñarol Universitário: Nario, Domingues e Oddo; Rios, Carbone e
Nunes; Souza, Minolli, Fierro, Docampo e Lerena. Técnico: Diaz
Gol: Lerena (10’ do 2 T)
10/06/1928
Uberaba 1x3 Peñarol Universitário
Local: Estádio das Mercês, Uberaba – MG
Árbitro: Valter Fonseca
Uberaba: Bio, Machado e Jefferson; Barros, Odilon e Badu; Faria, Tintas, Walfredo, Affonso e Gradim. Técnico: Sebastião Braz
Uberaba: Bio, Machado e Jefferson; Barros, Odilon e Badu; Faria, Tintas, Walfredo, Affonso e Gradim. Técnico: Sebastião Braz
Peñarol Universitário: Sposito, Domingues e Oddo; Armiñana, Carbone e Cambón; Chelsi, Minolli, Fierro, Docampo e Lerena.
Técnico: Diaz
Gols: Tintas (USC, 2 tempo)
O jornal Lavoura e Comércio noticiava os encontros como sendo verdadeiramente contra o original e lendário Peñarol de Montevidéu. O lendário Padre Prata, figura proeminente de Uberaba, em recente artigo para o Jornal da Manhã, joga uma luz sobre aqueles tempos:
"Eu deveria ter apenas uns seis ou sete anos, quando meu pai, pela primeira vez, levou-me a um campo de futebol. Uberaba iria jogar contra o Peñarol do Uruguai. Nunca tinha visto tanta gente em minha vida. Lembro-me apenas dos meninos pendurados nos bambus gigantes ao lado do campo, nos terrenos do Diocesano, tentando ver o jogo lá daquelas alturas".
A excursão continuaria por vários meses e só foi encerrada em meados de setembro, com a proibição de novas partidas pela CBD. O certo é que, até os dias de hoje, várias equipes do interior brasileiro divulgam terem enfrentado o poderoso Peñarol de Montevidéu no final da década de 20. O site do Comercial, de Ribeirão Preto, por exemplo, um dos poucos clubes que derrotaram os uruguaios, chega até mesmo a noticiar que o clube derrotou o verdadeiro Peñarol, na capital uruguaia, fato que nunca ocorreu.
Apesar de todas as críticas recebidas, a verdade é que o Peñarol Universitário conquistou importantes vitórias em nosso país e alguns de seus atletas teriam, nos anos seguintes, relativo sucesso no futebol uruguaio, tais como Julio Oddo, que fez parte do elenco do verdadeiro Peñarol em 1932, e até mesmo no Brasil, como Ventura Cambón, que foi jogador e um dos mais importantes treinadores da história palmeirense, e Emílio Armiñana, que brilhou no São Paulo no início da década de 30.
Fontes:
- Arquivos da Hemeroteca da Biblioteca Nacional, várias datas em 1928.
- Jornal da Manhã, Uberaba-MG, edição de 06/05/2012, artigo "Restam apenas as lembranças".