Uma sepultura simples, na longínqua quadra”R” do Cemitério São João Batista, em Uberaba, é residência eterna de um dos maiores e mais polêmicos jogadores do Uberaba Sport em todos os tempos: o “negrinho” Juca Pato. O túmulo simples é ornamentado por uma bola de futebol esculpida em granito e uma singela plaqueta, onde se lê: “Jucapato, ídolo de sempre”.
José Antônio da Silva nasceu em 02/11/1910. Habilidoso, de refinada técnica, chamava a atenção pela visão de jogo, a facilidade em dar passes, a boa condução de bola e o preparo físico invejável. Foi figura onipresente no ataque alvirubro nas décadas de 30 e 40. Sua fama ultrapassava as fronteiras do Brasil Central e o levou a jogar no Corinthians no ano de 1933.
A passagem pelo Corinthians
Após mais de 60 anos, sua passagem pelo Colorado continua sendo lembrada, tanto pelas apresentações notáveis quanto pelas enormes confusões que criava. Mesmo jogando ao lado de atletas como Ayala, Gabardo e Gabardinho, era apontado pelos torcedores como um dos maiores destaques do time. Mas o ponta-direita, esperto, driblador e artilheiro notabilizou-se mesmo pela fama de encrenqueiro, provocando várias brigas em sua carreira.
A passagem pelo Corinthians
Após a disputa de dois amistosos do Corinthians em Uberaba, Juca Pato chamou a atenção do clube paulistano, mas o fato curioso é que ficou conhecido em São Paulo pelo nome do médico que o indicou, e presidente do Uberaba Sport, Boulanger Pucci.
Assim, com esse nome, Boulanger, fez sua estréia em uma terrível goleada sofrida contra o grande rival, o Palestra Itália
(atual Palmeiras), onde, apesar da péssima exibição corinthiana, foi
elogiadíssimo por toda a imprensa paulista.
Disputou 10 jogos pelo Timão e marcou apenas um gol, na vitória sobre o América do Rio,
pelo Torneio Rio – São Paulo, em 13/08/1933. No entanto, os maus resultados, a dificuldade de afirmação e a saudade de sua Uberaba natal falaram mais alto e Juca Pato decidiu voltar, alegando que “o frio por lá estava de matar”.
E segue a história
Ajudou a equipe alvirubra a brilhar em vários momentos, inclusive na primeira participação do clube em campeonatos mineiros, no longínquo ano de 1945, quando já era um veterano. Nesse campeonato, fraturou o tornozelo em um jogo contra o Atlético Mineiro, em Uberaba, numa disputa de bola com Cafunga.
Em 1946, recuperado mas receoso, retornou aos campos na equipe de aspirantes do Uberaba, mas não jogou mais pela equipe principal e acabou por transferir-se para o Atlético da Abadia, disputando o campeonato amador de Uberaba.
A última contusão, mal curada por uma medicina ortopédica ainda rudimentar, fez com que Juca mancasse para sempre. Encerrou sua carreira no final da década de 40. Por muitos anos trabalhou no Uberabão, como auxiliar de serviços gerais, onde servia o famoso “cafezinho da imprensa” nas cabines de rádio, jornal e TV. Completava a renda fazendo bicos como pedreiro e pintor.
Saindo de cena
E foi trabalhando na reforma de um telhado que Jucapato encontrou a morte. Por descuido, enquanto trabalhava, deixou escapar uma telha, que espatifou-se em um berço, no cômodo abaixo. O incidente não passou de um susto, mas a briga que se sucedeu, entre Juca e seu contratante, causou intensa emoção e desgosto no velho jogador. À noite, no mesmo dia, caiu vitimado por um infarto fulminante. Morreu brigando, como brigando viveu toda uma vida de limitações e dificuldades.
Faleceu em 06/02/1981, deixando viúva a Sra. Zulmira Teodoro de Sousa e quatro filhos. Seu velório ocorreu no Estádio Boulanger Pucci, com todas as honras para um dos maiores ídolos do clube em todos os tempos. Hoje é nome de uma rua no Conjunto Beija Flor II, bairro popular de Uberaba.
Abaixo a transcrição da marcha Juca Pato, composta por Lourival Balduíno do Carmo, o Barão, co-autor do hino do Uberaba Sport, publicada no jornal “O Triângulo Esportivo” em 1938. Mais uma evidência de sua condição de ídolo da torcida.
Juca Pato (Marcha)
Música: Benedicto NascimentoLetra: Lourival Balduíno do Carmo (Barão)
Bola ao ar, bola no chãoJuca Pato é campeão
Se a bola centra,O negro entra!Elle é pão duro!Que não dá furo
É uberabenseQue chuta e venceÉ o intemeratoAz Juca Pato!
Bola ao ar, bola no chãoJuca Pato é campeão
Torcida alerta!É gol na certaNo pé do patoNão há desacatoÉ bravo e audaz!Heroe primeiroGrande Ponteiro!
Bola ao ar, bola no chãoJuca Pato é campeão.
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Obs.:
Agradecimento especial à Doutora Lúcia Helena Soares, excelente obstetra, que trouxe ao mundo meus dois filhos, Ruy Neto e Davi. Neta de Juca Pato, Lúcia me contou boas histórias que enriqueceram esse artigo.
Demais fontes:
- Jornal O Triângulo Esportivo, de Uberaba-MG, edição de 22/02/1938.
- Jornal Lavoura e Comércio, de Uberaba-MG, diversas edições de 1946.
- Jornal da Manhã, de Uberaba - MG, edição de 07/02/1981.
- Acervo Folha.
- Blog 100xCorinthians: http://100xcorinthians.blogspot.com.br
- Acervo Folha.
- Blog 100xCorinthians: http://100xcorinthians.blogspot.com.br