O Uberaba tem um hino que faz arrepiar os uberabenses. Versos ora simétricos, ora quebrados, desenvolve, todavia, um canto de loas ao clube do coração e que hoje, mais forte que nunca, está incorporado às próprias tradições da cidade. E foi Lourival Balduíno do Carmo, o "Barão", quem colocou versos lindos na maravilhosa música do maestro Rigoleto de Martino, que ainda hoje transmite aos torcedores do clube um momento de euforia e alegria incontida. Sherlock Holmes Marinho, bancário aposentado e sobrinho de "Barão", é quem dizia: "Tenho na minha casa em São Paulo, o disco do Uberaba. Ouço sempre para amenizar a saudade que sinto. Sempre que viajo, a gravação vai para o toca-fitas do carro. É para matar as imensas saudades".
As informações descritas acima, bem como o texto abaixo foram extraídas do livro "Causos de Nenê Mamá - 40 anos de futebol em Uberaba", escrito pelo jornalista Luiz Gonzaga de Oliveira em 1997, e contam um pouco da vida e da obra do folclórico Lourival Balduíno do Carmo, mais conhecido como "Barão", autor da letra do hino do Uberaba Sport.
"Barão, o folgado"
Lourival Balduíno do Carmo tinha estatura mediana, cor bem amorenada, um bom humor de fazer inveja a qualquer pessoa; falava fluentemente, sem ser arrogante. O apelido Barão, na verdade, talvez lhe tivesse sido dado pelo jeito educado com que tratava as pessoas, crianças, jovens e adultos. “Barão”, com quem quer que fosse, tinha sempre uma postura elegante e cheia de boas maneiras. Seu apelido, quem sabe, tivesse algo a ver com a sua fidalguia.
De poucos estudos, como gostava de se anunciar, era, no entanto, o que se pode chamar de autodidata. Se, se falasse com ele sobre política, tinha sempre uma opinião na “ponta da língua”. Fosse o assunto culinária, era com ele mesmo. Se, se enveredasse para economia ou pesquisa de mercado, o “Barão” tinha sempre o gosto da palavra.
Mas, o que mais fazia bem era escrever discursos. Criar frases de retórica e, Deus meu! Suas poesias eram metrificadas e todas com a verdadeira rima. Ninguém melhor que Lourival Balduíno do Carmo, ou, perdão, “Barão”, para escrever cartas de amor em nome de terceiros à sua ou ao seu bem-amado.
Pobre, porém, não soberbo, “Barão” era também o típico professor de roça. Suas andanças não iam além de Uberaba para Veríssimo, “Capão da Onça”, Campo Florido e quetais.
Família grande, tinha na esposa Licota uma companheira de primeira hora. Jamais se queixou da falta de nada em casa. Mesmo quando a situação estava brava, um “mundo de filhos”, Dona Licota deixou de ser a “mulher do Barão”. Mesmo quando ele ficava, dias e dias, meses e meses fora de casa, sem se importar se a esposa e os filhos estavam vivos, com ou sem fome. Era assim que “Barão” gostava de viver. Entre outras de suas virtudes, estava a de compositor e, embora sem que tivesse qualquer professor, arranhava no seu velho violão as notas musicais que serviriam de acompanhamento às valsas, shotis, marchas e modinhas que compunha. Sua composição mais famosa, sem dúvida, foi a letra de uma marcha de Rigoleto de Martino, que ficou imortal aqui na santa terrinha: o hino do Uberaba Sport Club. “Tenho fulgente história, até os deuses já cantam a minha glória, sou o valente campeão, que de Uberaba possuo o coração” e, por aí afora.
Mas voltemos ao “Barão”, lírico, poeta, escritor e professor de roça.
Certa vez, depois de passar meses fora de casa, sem saber o que estava acontecendo com Dona Licota e sua penca de filhos, eis que reaparece, glorioso, altivo e falante, o nosso Lourival Balduíno do Carmo, o “Barão”:
- Que papelão, hein, seo Barão!? – foi logo praguejando D. Licota.
- Eu aqui, quase passando fome com os meninos e você nessas andanças de vagabundagem, seu... – e parou por aí.
“Barão”, na maior calma do mundo, sem perder o seu jeito fleumático, sorriu e tentou convencer a mulher:
- Licota, minha querida, nem queira saber como “passei bem” esse período. Era churrasco que me ofereciam, galinhadas das mais suculentas, arroz doce de sobremesa quase toda a noite, suã e costelinha de porco...Ah! Licota, já estou ficando com saudades...
Nesse ponto, veio a indignação maior da esposa:
- E dinheiro, Barão, dinheiro! Você trouxe para pagar as nossas contas?
Com ar pomposo, olhando de cima para baixo a mulher, o nosso “Barão”, foi enfático:
- Ah! Licota, dinheiro eu não trouxe não, mas deixei por lá grandes amizades....
De poucos estudos, como gostava de se anunciar, era, no entanto, o que se pode chamar de autodidata. Se, se falasse com ele sobre política, tinha sempre uma opinião na “ponta da língua”. Fosse o assunto culinária, era com ele mesmo. Se, se enveredasse para economia ou pesquisa de mercado, o “Barão” tinha sempre o gosto da palavra.
Mas, o que mais fazia bem era escrever discursos. Criar frases de retórica e, Deus meu! Suas poesias eram metrificadas e todas com a verdadeira rima. Ninguém melhor que Lourival Balduíno do Carmo, ou, perdão, “Barão”, para escrever cartas de amor em nome de terceiros à sua ou ao seu bem-amado.
Pobre, porém, não soberbo, “Barão” era também o típico professor de roça. Suas andanças não iam além de Uberaba para Veríssimo, “Capão da Onça”, Campo Florido e quetais.
Família grande, tinha na esposa Licota uma companheira de primeira hora. Jamais se queixou da falta de nada em casa. Mesmo quando a situação estava brava, um “mundo de filhos”, Dona Licota deixou de ser a “mulher do Barão”. Mesmo quando ele ficava, dias e dias, meses e meses fora de casa, sem se importar se a esposa e os filhos estavam vivos, com ou sem fome. Era assim que “Barão” gostava de viver. Entre outras de suas virtudes, estava a de compositor e, embora sem que tivesse qualquer professor, arranhava no seu velho violão as notas musicais que serviriam de acompanhamento às valsas, shotis, marchas e modinhas que compunha. Sua composição mais famosa, sem dúvida, foi a letra de uma marcha de Rigoleto de Martino, que ficou imortal aqui na santa terrinha: o hino do Uberaba Sport Club. “Tenho fulgente história, até os deuses já cantam a minha glória, sou o valente campeão, que de Uberaba possuo o coração” e, por aí afora.
Mas voltemos ao “Barão”, lírico, poeta, escritor e professor de roça.
Certa vez, depois de passar meses fora de casa, sem saber o que estava acontecendo com Dona Licota e sua penca de filhos, eis que reaparece, glorioso, altivo e falante, o nosso Lourival Balduíno do Carmo, o “Barão”:
- Que papelão, hein, seo Barão!? – foi logo praguejando D. Licota.
- Eu aqui, quase passando fome com os meninos e você nessas andanças de vagabundagem, seu... – e parou por aí.
“Barão”, na maior calma do mundo, sem perder o seu jeito fleumático, sorriu e tentou convencer a mulher:
- Licota, minha querida, nem queira saber como “passei bem” esse período. Era churrasco que me ofereciam, galinhadas das mais suculentas, arroz doce de sobremesa quase toda a noite, suã e costelinha de porco...Ah! Licota, já estou ficando com saudades...
Nesse ponto, veio a indignação maior da esposa:
- E dinheiro, Barão, dinheiro! Você trouxe para pagar as nossas contas?
Com ar pomposo, olhando de cima para baixo a mulher, o nosso “Barão”, foi enfático:
- Ah! Licota, dinheiro eu não trouxe não, mas deixei por lá grandes amizades....